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O milagre do renascimento de Foguang

História moral de inspiração Zen, anónima, do séc. VIII.

Preocupada com a pouca afluência ao Templo Foguang (em chinês: 佛光寺) [1], a sr.ª Bao-Hu-Ze (em chinês: 保護者)[2], uma devota aldeã, procurou o grande Mestre Mazu Daoyi (em chinês:馬祖道)[3],  subindo a ingreme encosta do pico, três dias sem comer nem dormir, em busca de ajuda.

 

Mazu recebeu-a numa ermida com só uma câmara, em penumbra e em silêncio, serviu-lhe chá.

Agora imóvel, mas com grande respeito e apreensão Bao-Hu suplicou por um milagre que salvasse a sua fé, e a dos seus conterrâneos.

Mazu Daoyi olhou-a nos olhos e acendeu uma pequena acendalha de atear o fogo[4] , olhou-a  enquanto esta ardeu, e depois respondeu:

--Buda desaconselhou os milagres, nunca admitiu tê-los realizado… e pregou a meditação e a compaixão.

--O monge Han estava na província de Kinghai, longe e doente, mas estava nos meus pensamentos e meditações… Uma amiga apresentou-me a uma mulher com poderes. Fez infusões que bebi todos os dias durante mais de um ano. Han curou-se e regressesou. Foi Mii…lagre!

--Quando atiramos um seixo ao lago, pode ressaltar três vezes. Durante três instantes olhamos e até nos pode parecer que voa. Mas, no último instante, vai acabar por se afundar… Para cada causa há uma consequência. A causa do regresso de Han, saudável e sorridente, não foi o teu amor. Quando só consideramos o resultado e desconhecemos a sua causa, parece-nos um milagre.

Bao-Hu, desiludida e baralhada, mas no entanto impressionada com a sabedoria do mestre, regressou a casa cabisbaixa.

Como  sabia que amava Han? Era um segredo! Não há dúvida que Han regressou feliz e aliviado do penar recente, como podia saber viera especialmente sorridente o mestre Mazu Daoyi, isolado na sua ermida?

Logo cedinho pela manhã, o sol despontava confortavelmente a oriente, encontrou-se com outras frequentadoras do Templo Bao-Han e disse:

--O ensinamento do grande Mazu, que se depositou no fundo do meu espírito melhor do que me transmitiu por palavras, foi que devemos praticar a meditação e a compaixão, e assim vamos conseguir um milagre no nosso Templo.

O ensinamento era este mas uma mulher muito espalhafatosa que o povo ouvia muito, Piànzi (em chinês: 騙子)[5],resoveu anunciar que na próxima lua-cheia, em Foguang haverá um grande Milagre, se todos meditarmos e tivermos compaixão e Buda na nossa alma.

Passaram vários ocasos e luas, e na seguinte lua cheia, coincidente com o solstício (os astros é que sabem) o templo estava com aspeto mágico. Dentro e à sua volta tinha-se acumulado povo, que trouxera milhares de flores como oferendas, à espera do prometido milagre.

Nada aconteceu.

Uns voltaram desiludidos. Outros viram pequenos milagres nas suas vidas pessoais, mas todos viveram a experiência de um templo cheio de flores e de povo.

Foi neste dia que a fama de Foguang nasceu.

 

Disse Bao-hu Ze:

- Foi este o Milagre! A minha intenção de salvar o templo saiu vitoriosa, para além das minhas esperanças, Foguang é agora o templo mais sagrado e procurado!

[1] Principal templo da província de Xanxim, na China, desde 2009 considerado ‘património da humanidade’ pela UNESCO.

[2] Na lenda ficou conhecida como “The Guardian”, a Protetora.

[3] Primeiro e principal sábio do segundo período Chan do Budismo Chinês, um dos fundadores da filosofia Zen, séc. VII.

[4]  Estima-se que ardiam cerca de 40’. Eram feitas de fezes de búfalo misturadas  em gordura do mesmo. Acendidas com uma faísca provocada pelo bater de duas pedreneiras, preparadas para o efeito, tinham com um dragão gravado em relevo, trabalho de maravilhoso de um irmão artesão.

[5] Na lenda ficou conhecida, pelo nome que o primeiro tradutor lhe atríbui: The Cheater, a Batoteira.

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